domingo, 20 de março de 2011

APENAS MAIS UM DESABAFO

Recentemente eu assisti a uma palestra de um cara que viajava bastante e já foi a lugares mais remotos possíveis em função de um programa de tv. Ele dizia que sua grande lição é que o ser humano é essencialmente igual. Que não importa onde esteja, se for no Brasil ou no interior da Zâmbia, a forma de relacionamento é muito parecida; e que isso acontecia por sermos seres inerentemente sociáveis. E então, para concluir, contou a história de um conhecido do Iémen que nunca havia comido uma pizza, mas que possuia um perfil no facebook.

A questão é que não concordo com isso. Eu acho os seres humanos extremamente diferentes, e isso independe de onde vivem. Inclusive, isso independe de qualquer tipo de variância: sexo, cultura, religião, geografia e seja lá mais o que pode ser de diferente na vida de cada um.  Me surpreendo demais, a cada dia, com a capacidade que alguns têm de doação. Me impressiona a solidariedade de certas pessoas. Me espelho em algumas delas, muitas vezes. E não me refiro a personalidades famosas como a Madre Tereza nem Gandhi. Falo de pessoas reais, que convivem comigo ou as quais já observei por aí. Gente que se sente bem fazendo o bem.

No entanto, também me causa grande surpresa o descaso de outros. Estamos passando por um momento triste e turbulento no mundo. Seja pela fúria da natureza no Japão ou pela inconsequência de um ditador sanguinario na Libia, é fato que muita gente está morrendo nesse exato agora. Sem contar outras desgraças que nem estão tão distantes de nós: podemos vê-las a todo instante, a nossa volta. E enquanto me pego pensando nisso o tempo todo, me perguntando por que certas tragédias acontecem, tentando entender qual é o meu papel no mundo e como posso melhorá-lo, eu vejo pessoas preocupadas com assuntos como o Big Brother, por exemplo. Gente que mal sabe o que se passa com o próximo porque está muito ocupada olhando para o próprio umbigo. Gente que é capaz de demonstrar emoções, mas por motivos completamente equivocados.

E o que eu tenho a dizer é: não, eu não sou igual a essa gente. Que ninguém me venha dizer que o ser humano é essencialmente igual. Um programa de TV, um jogo de futebol ou uma roupa nova não podem despertar em mim algo maior do que sinto quando percebo o que ocorre em minha volta. A futilidade não pode ser levada como um mal necessário, já que ela está fazendo com que vivamos numa sociedade extremamente egocêntrica, sociedade essa que tem transformado os seres humanos em seres desumanos.  Eu insisto: eu não sou assim. E não serei. Porque eu sempre irei chorar ao saber que em algum lugar há alguém sofrendo e não porque fulano de tal foi eliminado no paredão ou por ue ciclano não me adicionou no facebook. As minhas lágrimas valem infinitamente mais do que isso.

domingo, 6 de março de 2011

A INSEPARABILIDADE DO SER

Então era assim: ela sofria porque era livre, e porque a liberdade era essencial a ela como o ar que respirava. E como o ar que respirava era inerente à sua vontade, assim era como sentia-se livre. Porém ela sofria porque ser livre não era e jamais seria normal. Porque poucos são os verdadeiramente livres, poucos são os sem paredes, os sem limites, poucos são os que encaram o horizonte. Mas ela era assim. E se perguntava sempre o que fazia com aquilo, com aquele jeito e aquela vontade que transbordava de viver se jogando e de viver sem amarras. Amarras são seguras, e ela tinha liberdade mas não sabia de nada, ela olhava pra frente e não sabia. Era um conflito entre ser e se aceitar ser. Pessoas normais fazem planos, se prendem, constroem. E o que ela havia levantado até então? E o que ela havia construído? Era tempo de construir? Um dia o tempo de construir chegaria e quando seria tarde demais?

Ela entenderia que a construção mais segura e a mais sólida é aquela que construimos dentro de nós – e não fora. Que a liberdade que ela possuía, apesar de privilégio, não a fazia especial, nem diferente, nem anormal. As pessoas podem ser felizes de diversas formas, mas todas essas formas são sustentadas por uma razão: compreender. Compreender a si mesmo. A liberdade era o que a fazia feliz. Apesar do medo da anormalidade, apesar de olhar em volta e não se reconhecer, apesar de ser diferente. Tentar ser igual é o pior dos caminhos, é escuro e cheio de perigos e é ele que as pessoas escolhem por parecer ser o mais curto. Se todos compreendessem não haveria normalidade, porque todo ser humano é unicamente anormal.

Quanto a ela? Era livre. E seria feliz, enfim.