domingo, 6 de março de 2011

A INSEPARABILIDADE DO SER

Então era assim: ela sofria porque era livre, e porque a liberdade era essencial a ela como o ar que respirava. E como o ar que respirava era inerente à sua vontade, assim era como sentia-se livre. Porém ela sofria porque ser livre não era e jamais seria normal. Porque poucos são os verdadeiramente livres, poucos são os sem paredes, os sem limites, poucos são os que encaram o horizonte. Mas ela era assim. E se perguntava sempre o que fazia com aquilo, com aquele jeito e aquela vontade que transbordava de viver se jogando e de viver sem amarras. Amarras são seguras, e ela tinha liberdade mas não sabia de nada, ela olhava pra frente e não sabia. Era um conflito entre ser e se aceitar ser. Pessoas normais fazem planos, se prendem, constroem. E o que ela havia levantado até então? E o que ela havia construído? Era tempo de construir? Um dia o tempo de construir chegaria e quando seria tarde demais?

Ela entenderia que a construção mais segura e a mais sólida é aquela que construimos dentro de nós – e não fora. Que a liberdade que ela possuía, apesar de privilégio, não a fazia especial, nem diferente, nem anormal. As pessoas podem ser felizes de diversas formas, mas todas essas formas são sustentadas por uma razão: compreender. Compreender a si mesmo. A liberdade era o que a fazia feliz. Apesar do medo da anormalidade, apesar de olhar em volta e não se reconhecer, apesar de ser diferente. Tentar ser igual é o pior dos caminhos, é escuro e cheio de perigos e é ele que as pessoas escolhem por parecer ser o mais curto. Se todos compreendessem não haveria normalidade, porque todo ser humano é unicamente anormal.

Quanto a ela? Era livre. E seria feliz, enfim.

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